
Por Aralotum
A Umbanda é difícil de ser compreendida em sua completude, talvez ninguém a conheça, talvez apenas nossos guias e mentores é que conhecem verdadeiramente a Umbanda. De todo modo, precisamos estar esclarecidos até onde podemos e até onde a nossa mente consegue alcançar.
Considero que, historicamente, a Umbanda inexistia em direito antes de 1920, ano em que foi registrada oficialmente em cartório por João Pessoa, em Niterói. Antes disso, não havia conhecimento da palavra Umbanda registrada no Brasil. O primeiro livro sobre umbanda só foi publicado em 1933, por Leal de Souza [1]. Em 1941 é feito o primeiro Congresso de Espiritismo de Umbanda, organizado pelo Federação Espírita de Umbanda, a mais tradicional das instituições umbandistas.
Obviamente, a Umbanda já existia de fato há muito, onde é sugerido popularmente a sua primeira manifestação em 15 de novembro de 1908, através do médium Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Mas essa não é uma certeza cabal. Há registros que apontam que a Umbanda surgiu não com uma pessoa e se espalhou, mas com várias pessoas, em diversas datas e lugares diferentes e sem que houvesse qualquer relação de influência entre elas.

Uma dessa pessoas, como consta registrado em documentário, foi W. W. da Matta e Silva, que afirmou nunca ter frequentado qualquer terreiro ou pai de santo [2]. Essa tese justifica a rápida propagação e proliferação da Umbanda, pois, sendo um manifestação real e verdadeira dos Espíritos Superiores, cresceu independentemente, tomando uma forma maciça e operada coletivamente, de maneira sinárquica, pelos mesmos princípios.
É importante considerar que, mesmo antes de 1908, já manifestavam-se os típicos espíritos de Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus e Encantados nas diversas religiões populares do Brasil inteiro. Já existia os Candomblés, os Candomblés de Caboclo, o Tambor de Mina, o Batuque, o Catimbó, a Jurema, além de outros. Todos, entretanto, tem algo em comum, todos cultuam as forças ativas da natureza, da natureza do homem, da natureza do mundo e da natureza cósmica e, em maior ou menor grau, manifestam essa compreensão através de seus ritos.
É importante considerar que, mesmo antes de 1908, já manifestavam-se os típicos espíritos de Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, Exus e Encantados nas diversas religiões populares do Brasil inteiro. Já existia os Candomblés, os Candomblés de Caboclo, o Tambor de Mina, o Batuque, o Catimbó, a Jurema, além de outros. Todos, entretanto, tem algo em comum, todos cultuam as forças ativas da natureza, da natureza do homem, da natureza do mundo e da natureza cósmica e, em maior ou menor grau, manifestam essa compreensão através de seus ritos.
O grande elo perdido dessa corrente, portanto, era a mediunidade. Todos esses cultos, antigos, mas jogados à periferia da esfera religiosa manifestam em comum a mesma ordem de Espíritos, nas suas várias classes e hierarquias, de acordo com a afinidade e o karma de cada coletividade. Ou seja, já manifestavam-se Espíritos que vinham “preparando o terreno” para essa nova afirmação da corrente umbandista.

Outra consideração sobre essa época (final do sec. 19/começo do sec. 20) é a vinda do espiritismo kardecista da França para o Brasil, o que colaborou para a popularização e o entendimento dessa nova corrente umbandista, já que o Brasil tornou-se em pouco tempo o “país mais kardecista do mundo”. Também, por volta da mesma época, é que veio as publicações de alguns grandes baluartes do ocultismo, como Stanislas de Guaita, Saint Yves D’Alveydre, Papus, Eliphas Levi, Joséphin Péladan, Oswald Wirth… eles propagavam um esoterismo alinhado com as ideias de tanto outros que vieram antes deles, como Jacob Böheme, Martinez de Pasqually, Louis Claude Saint-Martin e Fabre D’Olivet.
Esses grandes homens se organizaram na Ordem Cabalística da Rosa Cruz, ao passo que, em épocas próximas, surge também a Sociedade Teosófica e as publicações de Blavatsky, que nos trás o esoterismo oriental de uma forma toda própria. Tudo isso contribuiu de maneira efetiva para a consolidação da Umbanda no Brasil, principalmente de sua principal vertente Esotérica, que tem muitas de suas bases nesses autores. Foi através dessa Umbanda Esotérica que conseguiu-se atingir um maior grau de profundidade sobre o entendimento da Umbanda.
O significado da palavra já vinha sendo estudado há tempos. Em um registro de áudio, Zélio declara o primeiro nome da Umbanda como Alabanda, significando Deus ao Nosso Lado. A palavra foi mudada posteriormente para Aumbanda, segundo Zélio, porque o termo não soava bem. Por fim, ficou Umbanda [3].

No Primeiro Congresso Brasileiro de Espiritismo de Umbanda, Diamantino Coelho, representante da Tenda Espírita Mirim, defendeu que Umbanda vinha de Aum-bandha e que tinha suas raízes no sânscrito [4]. Embora consideremos uma manobra de desvinculação da imagem da Umbanda dos cultos afros, voltando, assim, sua origem ao orientalismo, essa nova compreensão tratada na época trouxe aspectos positivos sobre a questão.
É provável que Matta e Silva tenha se inspirado nas informações contidas no livro lançado sobre o Congresso e, posteriormente, tenha aprofundado no assunto, segundo os próprios mistérios. Valeu-se do arqueômetro de D’Alveydre para de decodificar e traduzir a palavra Umbanda segundo sua forma mais essencial, Aum-Ban-Dan – O Conjunto das Leis Divinas. Ele, realmente, foi o primeiro que trouxe à tona esta compreensão, e também a de muitos outros conceitos que compõe sua Umbanda Esotérica.
Com isso, podemos concluir que a Umbanda formou-se – e transformou-se – em significados e sentidos dentro de três instâncias principais: (1) primeiro como movimento, que surge com a manifestação típica de seus próprios espíritos em cultos populares distintos, tendenciando ao sincretismo a a convergência pacífica; (2) como religião, com a formação de seus próprios cultos, dentro da pluralidade de ritos existentes; (3) como Lei Divina, essa é a compreensão mais profunda da Umbanda,pois é imutável, é verdadeira.
A Lei Divina é universal e controla toda a realidade existente, do espírito e da matéria. É a Lei de Deus dada a Moisés, os Princípios Herméticos do Caibalion; tudo começa, se desenvolve e termina sendo regulado por ela. Essa Lei é a essência da religião primitiva, a grande Religio Vera dos cabalistas, a Pedra Filosofal de toda a existência!
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[1] Leal de Souza, Antônio Eliezer. O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda. Rio de Janeiro, Brasil: s/e, 1933.
[2] Ritos Populares, Umbanda do Brasil. Produção: Rogério Sganzeria. São Paulo, Brasil: Tupan Realizações de Filmes e Vídeos Ltda, 1977.
[3] As gravações foram feitas pela senhora Lilia Ribeiro, na década de 1970. Foram repassadas pela Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade à Mãe Maria, da Casa Branca de Oxalá, que gentilmente se disponibilizou em recuperá-las e digitalizá-las. O arquivo digital que disponibilizamos foi cedido, gratuitamente, pelo senhor Alex, autor do site e blog Povo de Aruanda.
[4] Federação Espírita de Umbanda. Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de Umbanda. Rio de Janeiro, Brasil: Federação Espírita de Umbanda, 1942.