A divinação é uma das práticas mais importantes na cultura Nagô-Igala. O Ifá serve como uma bússola para os caminhos do destino, revelando as coisas ocultas e transmitindo a Sabedoria de Deus – o Supremo Espírito. Ele permite que ajustemos o nosso destino no caminho do progresso pessoal e coletivo. Portanto, o Ifá faz parte da vida comunitária na sociedade Igala, garantindo o bom cumprimento das predestinações determinadas pelo Deu Supremo.
Neste artigo, vamos discutir os diversos tipos de Ifá (oráculo) na cultura e religião Igala, tanto no Brasil quanto na Nigéria.
Quem São os Igala?
Igala é um grupo étnico, presente na Nigéria e em em outros países, tratado na literatura acadêmica como um grupo Iorubá. Entretanto, muitos grupos étnicos foram descritos como Iorubá, como uma forma de apagamento cultural. É por isso que Iorubá não possui uma unidade tradicional, em termos de costumes e lideranças. Cada grupo considerado Iorubá vai possuis os seus próprios reis e os seus próprios costumes, que variam conforme a região e o clã familiar.
O povo Igala, possui a sua própria cultura e a sua própria comunidade tradicional, com liderança própria (o Ata Igala), consistindo, portanto, em uma identidade étnica própria. No Brasil, essa cultura está presentemente representada na minha figura, como Onu Igala, mas também na de dezenas de outras pessoas que assumem essa identidade cultural.
Devido ao processo escravagista, os Igala também ficaram conhecidos como Nagô, palavra que significa “graças” ou “obrigado”. Por causa do costume em ouvi-los falando Nagô para tudo, tomou-se o costume de referir-se a esse povo e outros relacionado como Nagô. No Brasil, temos muitas culturas de etnias chamadas Nagô, entre elas, Nagô-Egba, Nagô-Ijexa, Nagô-Oyo e Nagô-Igala.

O que é ifá?
De maneira geral, Ifá é sinônimo de oráculo. Existem vários tipos de oráculo, portanto, existem existem vários tipos de Ifá. Ifá também é tido como a Divindade da Palavra e da Sabedoria. Um deus solar, celestial, que é exposo-irmão de Odu – a Mãe Geomântica, a Mãe-Terra.
Na língua Igala, Ifá significa “escrita” ou “palavra” e faz referência direta ao seu significado como o Logos ou o Verbo. Portanto, Ifá é o Verbo Divino, a Palavra e Deus, que é escrita segundo os símbolos sagrados. Confira um vídeo (em inglês) do nosso amigo e embaixador Igala, Ayegba Abdullahi explicando sobre a origem da palavra Ifá:
Esses símbolos, considerados a escrita de Deus, é o que é chamamos de Ifá e consistem nos sinais que são vistos na natureza e em objetos sagrados. São esses sinais que transmitem a Sabedoria e a Vontade do Criador.
Há várias formas de ler esses sinais sagrados, portanto, há várias formas de divinação e todas são Ifá. O Ifá está presente em praticamente todas as culturas do oeste africano, especialmente no Golfo da Guiné, onde adquiriu adaptações e características próprias. Portanto, não existe uma única forma de fazer Ifá e nem uma única cultura que detém a verdade absoluta. Inclusive, o Ifá não pertence, exclusivamente, ao culto de Orunmilá. Cada local, cada grupo e cada família possui a sua própria prática de Ifá.
A Diferença Entre Orunmilá e Ifá
Muito se discute sobre a origem da prática do Ifá. Alguns vão dizer que é um oráculo original dos Iorubá, mas desconsideram que o Ifá também é praticados pelos Benin, Igala, Igbo, Hausa, etc.. Em geral, todas as outras etnias que compartilham o território com os Iorubá também praticam o Ifá.
Dito isso, é importante fazer uma separação entre o que é Ifá e o que é o culto de Orunmilá. Ifá é, simplesmente, o oráculo do qual o sistema de marcação de Odu é um dos métodos. Existem outros. O culto de Orunmilá é um culto à Divindade da Sabedoria, que teve a sua origem histórica à partir do culto de Obatalá/Orixalá. O culto a Orunmilá possui o seu próprio Ifá, chamado Ikin-Ifá.
Em outro artigo trataremos com mais profundidade sobre Orunmilá e a criação de seus métodos divinatórios. Mas é importante fazer essa separação, pois os métodos tal como conhecemos no culto a Orunmilá não se aplica a todas as formas de divinação. Portanto, o culto a Orunmilá não define a prática do Ifá.
Qual é a Origem do Ifá?
A cultura de Orunmilá teve sim inicio entre o povo Nagô-Iorubá. A estrutura dos versos tal como conhecemos dentro do culto de Orunmilá, assim como o uso de instrumentos como o Irofá, Opon-Ifá e o Iyerosun também tiveram início com Orunmilá. Por isso, essas são ferramentas tradicionais de uso exclusivo dos sacerdotes de Orunmilá. Mas a prática do Ifá mais antiga.
A origem do Ifá no oeste africano é, provavelmente, egípcia, tendo sido popularizada pelos árabes. Algumas pesquisas apontam – e assim também nos conta a história tradicional – que muitos povos sudaneses, como os Igala, Igbo e outros vieram em ondas migratórias à partir do Egito. Isso teria ocorrido à partir de 600 a.C., devido ao colapso da civilização egípcia com as invasões Persa, Grega, Romana e, por fim, Árabe. Os Iorubá teriam vindo da Núbia, por volta do ano 1000 d.C, devido a perseguição islâmica.
Então, muitos povos que migraram de Kemet – o Egito Antigo – trouxeram consigo as suas práticas oraculares, incluindo as práticas geomânticas. Ifá, inclusive, é uma palavra egípcia que significa “boca”, sendo referido como “a boca de Deus”, de onde sai o seu Verbo. Nas práticas oraculares de várias culturas africanas podemos encontrar referências a Ifá no nome de suas divindades oraculares – Fá, Ifá, Nfá, Afá, Fano, etc..
Os Diversos Tipos de Ifá
Para a cultura Igala, Ifá é sinônimo de oráculo e está ligado a diversas práticas, não apenas ao sistema de Odu. O sistema geomântico, embora seja o principal, é apenas um dos vários recursos de consulta oracular.
- Ifá Ebutu: É o Ifá na Areia, Oráculo de Areia ou Geomancia. É o método principal usado pelo povo Igala, onde as marcações dos Odu – as Mães Geomânticas – são feitas sobre uma terra ou areia previamente preparada. Essa terra ou areia deve ser retirada de alguns lugares da natureza, como rios, mares, encruzilhadas, matas, templos, etc.
- Ifá Anwa: É o Rosário de Ifá ou Rosário Oracular. Existem várias versões destes rosários, alguns são com 1 única “perna”, outros são com 2 “pernas”. São idênticos ao Opele-Ifá e servem para substituir as consultas com o Ifá na areia, pois são mais rápidos e dinâmicos.
- Ifá Cawrie: É o Ifá nos Búzios. É o popular Jogo de Búzios. Pode ou não ser interpretado através dos Odu e possui vários métodos consultados com diversas quantidades de búzios. O método mais básico é com 4 búzios (um para cada elemento), conhecidos por responder sim e não, mas que possuem 80 possibilidades de caídas básicas. Existem métodos intermediários com 8 e 16 búzios (um para cada Odu). Mas o método mais completo é com 21 búzios: os 4 elementos, mais 16 Odus e mais 1 para Exu.
- Ifá Obi: É o Ifá através de Obi ou Oráculo de Nozes. É o oráculo mais antigo e que fundamenta todos os outros. É o Oráculo da Deusa Faladeira, uma das esposas de Ifá. Possui diversos métodos e técnicas de interpretação. Pode ou não ser interpretado através de Odu e tem a capacidade de substituir todos os outros oráculos.
- Ifá Omi: É o Ifá na Água, Oráculo da Água ou Hidromancia. É o oráculo consultado através da água, em uma cabaça, uma bacia de louça ou um copo. É uma oráculo de vidência. Aqui, no Brasil, também é chamado de Copo da Vidência.
- Ifá Ogigo: É o Ifá no Espelho. É um método paralelo ou substituto do Copo da Vidência. É conhecido no Brasil como Espelho da Vidência.
E o Ikin-Ifá e Opele-Ifá? Bem, esses são os métodos de Ifá praticados pelas famílias de culto a Orunmilá. O Opele nem é tão exclusivo assim, pois, como vimos, também é usado fora do culto de Orunmilá com outros nomes. O único método exclusivo de Orunmilá é o Ikin, mas como este artigo é para falar sobre os métodos de Ifá Igala, vamos abordar sobre Ikin e Opele em outro momento.
A Iniciação em Ifá
Dentro das tradições Nagô-Igala, existe uma preparação própria para de tornar um sacerdote de Ifá. O culto a Ifá está bastante atrelado ao culto às divindades, chamadas Ere, Ojo ou Imalé–Orixá aqui no Brasil. O Ifá, em sí próprio, já é uma divindade, considerado esposo-irmão de Odu. Entretanto, cada divindade – ou seja, cada família de culto – possui o seu próprio Ifá, com seus próprios métodos e práticas. O Ifá é a boca pela qual as divindades e os ancestrais falam com seus devotos e familiares.
Dentro da cultura Igala também existe uma divindade da sabedoria, que é intrinsecamente ligada ao Ifá. O nome dele é Oka e seus atributos são muitos semelhantes aos de Orunmilá e do deus Thoth. Ele é o deus do conhecimento, da sabedoria, da escrita e é a testemunha o destino dos seres. É ele quem rege a iniciação em Ifá. O iniciado em Ifá é chamado Abifá e possui o conhecimento e a sabedoria para manipular todos esses oráculos citados.
A Prática de Ifá no Brasil
No Brasil, encontramos uma variedade de práticas e métodos divinatórios tradicionais africanos, que estão presentes na Umbanda, no Candomblé, no Batuque, no Tambor de Mina e etc.. Nem sempre esses métodos são convergentes, pois, ainda que se utilize a mesma ferramenta, a aplicação dela pode ser diferente.
Então, dentro da tradição de cada terreiro, vamos encontrar uma prática diferente de Ifá. O mais comum, por aqui, é o Obi e os búzios, que são consultados de diversas maneiras. Apesar disso, não são raros os terreiros que consultam o copo ou o espelho da vidência.
Nem todo mundo no Brasil usa o sistema de caídas por Odu. É muito mais comum a interpretação pelo número de búzios aberto ou fechado e por intuição. A prática de jogo por Odu sempre existiu em alguns terreiros, mas tem se tornado mais popular de 2010 em diante, devido a massificação da cultura Iorubá por aqui.
Conclusão: Deus Fala de Muitas Formas
Como vimos, não existe uma forma única e exclusiva de se consultar o Ifá. O culto a essa divindade oracular é pré-histórico e se espalhou por toda a parte da África Antiga, acompanhando as ondas migratórias que partiam do Egito. Por isso, é importante separar aquilo que o Ifá do culto de Orunmilá, afinal, o Ifá está presente em vários povos e em várias culturas antigas.
Apesar disso, o culto de Orunmilá, tal como o conhecemos, possui as suas próprias práticas de Ifá e e está presente no Brasil desde o século 19. Apesar dos poucos registros durante um certo período de tempo, ele sempre existiu, paralelamente, ao candomblé, à umbanda e ao batuque. No batuque, em especial, foi associado ao culto de Obatalá, tornando-se Oxalá-Orunmilaia. Enfim, o culto a Orunmilá foi adaptado segundo a realidade e as necessidades regionais da diáspora afro-brasileira.
Recentemente, houve um aumento do interesse nas práticas de Ifá e de como isso pode transformar o destino da nossa vida para melhor. Se você quer aprender mais sobre Ifá, culto de Orunmilá ou, até mesmo, deseja fazer uma consulta a Ifá, é só nos enviar uma mensagem clicando aqui.

