A Encantaria é um culto pré-histórico à alma da coisas e data de épocas imemoriais. Ele é a reminiscência de antigos ritos anímicos presentes em várias tradições ao redor do globo, principalmente nas tradições indígenas brasileiras. Com a colonização, essa Encantaria Indígena sofreu uma influência evidente do catolicismo mas, também, da bruxaria europeia e da Cabala. Hoje, eles se manifestam dentro das diversas linhas de trabalho nas religiões populares, inclusive na Alta Magia e etc.. Neste artigo, vamos abordar quem são esses seres e como se manifestam na espiritualidade.
- O Que é Encantaria?
- Quem São os Encantados?
- O Que é o Encante?
- Ritos de Encantaria
- Encantamento: o Mistério Teológico
- O Espírito Encantado da Natureza
- O Espírito Encantado Humano
- Opinião, Fatos e Vivências
- Conclusão
O Que é Encantaria?
Encantaria é um termo genérico para definir o culto aos Encantados. Este culto está presente em várias tradições do Brasil e faz parte de todas as religiões populares, entre elas, a Umbanda, a Kimbanda, o Candomblé, o Catimbó, o Terecô, o Tambor de Mina, o Toré, a Pajelança, etc.. Existe uma Encantaria em cada um desses cultos.
Embora a Encantaria exista como elemento fundamental do Catimbó e da Jurema, também existe uma Encantaria feita sem Jurema ou fora das mesas de Catimbó, pois os Encantados não trabalham apenas nesses lugares. Então, apesar de estarmos acostumados com essa definição, podemos concluir que Encantaria não é sinônimo de Catimbó e nem de Jurema.
Acreditamos que a Encantaria é o campo que amarra todos os sistemas de cultos populares afro-ameríndios, pois todos possuem Espíritos Encantados. Ainda que uma doutrina não os perceba como tal, a origem deles é essa e eles sempre estão no cerne das manifestações mediúnicas e espirituais.
Quem São os Encantados?
Os Encantados são os seres que habitam o Encante. Podem ser vários tipos de seres espirituais, desde espíritos simples que manifestam os elementos da natureza até espíritos siderais e, inclusive, a alma dos mortos. Em vias gerais, o Encantado é a manifestação de uma inteligência que está profundamente conectada com os Mistérios da Natureza – enquanto os Mentores de Umbanda estão conectados com os Mistérios da Divindade e os Guardiões de Kimbanda estão conectados aos Mistérios da Humanidade.
Então, um encantado pode ser muitas coisas. Eles são seres que estão entre a Manifestação Criadora e a Humanidade, e que compreende os reinos mineral, vegetal e animal. São os espíritos que habitam essas regiões do astral que chamamos de Sítios Sagrados, que são sete: as Montanhas, os Mares, as Praias, as Matas, as Cachoeiras, os Rios e as Pedreiras.
Do ponto de vista das Hierarquias Constituídas, os Encantados são manifestações dos sub-planos hierárquicos das Entidades de Lei. Eles apresentam uma manifestação paralela dentro da faixa vibratória dessas Entidades, podendo trabalhar lado a lado com eles, tanto “à direita” (em ritos solares) quanto “à esquerda” (em ritos lunares).
Um mesmo Espírito Encantado pode se manifestar junto com – e como – Crianças, Caboclos, Pretos Velhos e Exus Guardiões, de acordo com as suas afinidades e com a necessidade do trabalho. Não raro, os Mentores e Guardiões se valem da força dos Encantados para processos de cura, limpeza e quebra de malefícios. Esses são os tipos de espíritos considerados Encantados:
- Espíritos Elementares: Espíritos Puros que se manifestam nos Elementos da Natureza – ondinas (sereias), silfos (fadas), salamandras e gnomos. Eles possuem humores característicos e trabalham para causas afins aos seus elementos.
- Espíritos Minerais: São Espíritos Elementares que habitam os corpos minerais – montanhas, pedras, cavernas, grutas. Podem ser chamados de Mineiros ou Povo das Minas. São espíritos difíceis de encontrar e trabalhar com eles. Eles se escondem na terra e também escondem as coisas, mas quando são acionados e respondem positivamente, acham coisas perdidas, revelam tesouros ocultos e fazem curas milagrosas para o corpo físico e astral.
- Espíritos Vegetais: São os Espíritos Elementares que habitam os corpos vegetais – as plantas. Eles são a Inteligência da planta. São esses encantados que usam nomes de vegetais. Tradicionalmente, é dito que o primeiro ser que descobriu o segredo de uma determinada planta, foi encantado por ela e a sua alma foi incorporada ao Espírito de todas as plantas daquela espécie. Eles trabalham com a força daquele vegetal e ensinam os seus usos e segredos, de acordo com a sua Natureza.
- Espíritos Animais: São os Espíritos Elementares que habitam os corpos animais, também são chamados de Xerimbabos (Animal Amigo). É o Espírito da Cobra, do Sapo, do Boto, da Onça, enfim, qualquer animal. Eles podem ter manifestações dúbias. Podem se manifestar com trejeitos e comportamento animal, mas também podem se manifestar de forma inteligível aos seres humanos.
- Espíritos Hominais: São os chamados Mestres e Pajés. São Espíritos que, quando vivos, foram grandes sacerdotes e adentraram espiritualmente nos reinos do Encante, escolhendo voltar para ajudar os vivos. Nessa classe, existem os Mestres que não morreram, eles passaram por um processo de desmaterialização e simplesmente sumiram em algum lugar; adentraram ao Sagrado e não voltaram mais, então é dito que eles se “encantaram”. Mas também existem os Mestres Desencarnados, que se encantaram no pós-morte e receberam autorização de trabalho no astral.
- Espíritos Siderais: São os chamados Espíritos das Estrelas. São Espíritos luminares e celestiais, de altíssima luz e elevação. São Espíritos não-humanos, extraterrestres, que habitam outras moradas siderais e manifestam a potência dos planetas, estrelas e constelações.
- Espíritos Angelicais: São Espíritos luminares também, que nunca encarnaram mas, no caso, são a manifestação das potências angélicas.
- Guardiões da Natureza: São os Espíritos Guardiões das matas, dos rios, dos mangues e etc.. Popularmente chamados de Kurupira, Kaa’pora (Florzinha da Mata), Kaa’xangá (Pai do Mangue), Mapinguari (Pai da Mata), Y’pupiara (Yara), Sacy-perê (Saci Pererê), Matin-taperê (Matinta Pereira), Anhangá, etc.. São Espíritos não-Humanos, Elementares habitam e guardam as regiões astrais dos Sítios Sagrados da Natureza.
Como pode ver, os Encantados, no geral, são Espíritos Naturais, não-humanos, ou seja, Espíritos Elementares. Todavia, a Encantaria também tem pontos de intersecção com os Espíritos Divinos, como os Espíritos Siderais e Angelicais, e com os Espíritos Humanos, como os Mestres e Pajés Desencarnados que adentraram no mistério do Encante. Mas a raiz do culto está na Natureza.
O Que é o Encante?
Inkant é uma palavra de origem dos índios Tarariú, do nordeste. Essa palavra identifica o próprio ritual de encantaria, ou seja, quando eles iam se conectar com os Espíritos da Natureza, eles diziam que fariam um Inkant. Já os portugueses trouxeram a palavra Encante ou Encanto, que se uniu à primeira por sua similaridade morfológica. Mas isso guarda um fato curioso.
Etimologicamente, a palavra Encante ou Encanto vem do verbo encantar, do latim incantare, que significa cantar para dentro ou cantar internamente (in = dentro; cantare = cantar). Essa palavra tem origem no radical indo-europeu kan (canto). Na Roma Antiga, o termo era usado para descrever o ritual em que um feiticeiro cantava ou recitava versos para invocar o poder dos deuses, ou seja, fazia um encanto ou encantamento. Originalmente, essa palavra possui o sentido de invocar através do canto.
Com o tempo, o sentido da palavra foi se ampliando e passou a ser utilizada para descrever qualquer tipo de magia, feitiçaria ou influência sobrenatural. Assim como o Inkant que, a princípio, era o Ritual de Culto aos Encantados e se tornou o Encante, o local sobrenatural onde todos esses seres habitam – o Universo Astral.
Então, hoje entendemos que o Encante é o habitat do Encantado, embora também possa designar o próprio Ritual de Encantaria. Mas, quando dizemos que eles vêm do Encante ou do Encanto, queremos dizer que eles vêm do universo mágico ou sobrenatural. Quando alguém se encanta, é para que vai; quando se desencanta, é de lá que vem. Dado à complexidade do termo, faz-se necessário um glossário básico:
- Encantar: É a ação de passar pelo encantamento, ou seja, adentrar o Encante e se tornar um Encantado. Ex.: O Mestre se encantou em um pé de Jurema.
- Encante ou Encanto: Diz respeito ao Universo Astral em si, à morada dos Encantados ou à região/local que ele habita (no astral) e, também, a ação de se encantar. Ex.: O Mestre vai voltar/te levar para o Encanto.
- Encantado: Espírito que habita o Encante ou o Espírito que se encantou, ou seja, passou pelo encante ou pelo encantamento.
- Encantamento: Promover ações sobrenaturais. Adentrar de maneira corpórea no astral, sem passar pela experiência de morte, desmaterializando-se. Ex.: Fulano passou por uma experiência de encantamento (desmaterializou-se).
- Desencante: É a ação de desencantar, sair do Universo Astral e adentrar ao Universo Material, concretizar, materializar. Ex.: O Mestre desencantou (materializou-se) na sessão.
- Inkant: É o Ritual de culto aos Encantados praticado pelos indígenas brasileiros.
Ritos de Encantaria
A Encantaria Brasileira possui manifestações ritualísticas em diversas tradições. Praticamente, todos os cultos populares do Brasil contam com a manifestação de Espíritos Encantados, salvo exceções de determinados setores dos Cultos de Nação, como o Candomblé Ketu e o Xangô do Nordeste. Vejamos os tipos de ritos e tradições onde a Encantaria está presente:
- Pajelança: Rito tradicional indígena, que envolve vários aspectos de cura e contato com os Encantados e Ancestrais. A pajelança se divide em dois tipos:
- Pajelança Indígena: Praticada pelos indígenas nativos e, portanto, isenta de influências culturais externas;
- Pajelança Cabocla: Praticada pelos indígenas e descendentes fora do ambiente nativo, portanto, é fortemente influenciada pela cultura cristã e africana também, a depender do local.
- Toré: Rito indígena de culto aos Encantados e Ancestrais, tido como uma “brincadeira”, mas na qual esses Espíritos se manifestam mediunicamente. O Toré se divide em três tipos:
- Toré Indígena: É o rito praticado pelos nativos, sem influência externa;
- Toré de Caboclo: É o rito praticado pelos descendentes nativos, com influência cristã e africana.
- Toré de Mestre: É o rito praticado para a manifestação de Mestres Desencarnados.
- Jurema: É o culto à árvore sagrada da Jurema, que abre o portal para o Encanto e se divide em dois tipos.:
- Jurema de Chão: Também chamado de Mesa Baixa ou Mesa Rasteira, é o Rito de Jurema feito no chão, sobre um pano ou uma esteira de palha;
- Jurema de Mesa: Também chamado de Mesa Alta, é o Rito de Jurema feito em uma mesa.
- Catimbó: É o culto ao tabaco, como uma divindade da comunicação. Também é um rito popular que tem como primazia a fumaça do tabaco como matéria prima e vetor das movimentações espirituais, e se divide em dois tipos:
- Catimbó: Ritual com o uso da fumaça do tabaco como principal elemento de culto;
- Catimbó-Jurema: Ritual associado ao culto e ao uso da Jurema Sagrada.
- Terecô: Culto popular de Encantaria Maranhense, muito parecido com a Umbanda.
- Jarê: Culto popular de Encantaria da Chapada da Diamantina, muito parecido com a Umbanda.
- Tambor de Mina: Culto afro-brasileiro aos Orixás, Voduns, Caboclos e Encantados.
- Candomblé: Culto afro-brasileiro aos Orixás, Jinkise, Voduns e Caboclos, Exus e Encantados. Entre os vários ritos ou nações, se destacam dois, para a nossa causa:
- Candomblé Angola: Culto de nações bantu aos Jinkise, Caboclos e Encantados;
- Candomblé de Caboclo: Rito afro-brasileiro de culto aos Caboclos e Encantados.
- Umbanda: Culto afro-brasileiro aos Orixás, Ancestrais e Encantados.
- Kimbanda: Culto afro-brasileiro ao Ancestrais e Encantados.
Em todos esses cultos, que estão ativos na espiritualidade popular afro-brasileira, há a manifestação dos Encantados. Em geral, eles se manifestam como Caboclos, Pajés, Pretos Velhos, Crianças, Marinheiros, Boiadeiros, Baianos, Malandros, Ciganos, etc.. Além disso, também há a manifestação de ondinas (sereias/kiandas), silfos, salamandras, etc.
Dependendo do culto há a prevalência de um outro grupos de Encantados. Por exemplo, nos cultos indígenas há uma preferência pela manifestação de Seres da Natureza, como a Caipora, o Pai do Mangue, a Mãe das Antas, o Pássaro Akauan, o Pássaro Azulão, etc.. Nos cultos caboclos há uma prevalência das figuras do Caboclo Índio e do Caboclo Boiadeiro, mas também podem se manifestar outros tios de entidades. Já no Candomblé, na Umbanda e no Catimbó as manifestações são generalizadas, baixa de tudo um pouco.
Na Kimbanda, dizem que só se manifesta Exu e Pomba Gira, mas existem Exus que cuidam de Seres Elementares e muitos Encantados de Esquerda preenchem as fileiras dos sub-planos na hierarquia dos Exus. São os chamados Caboclos Quimbandeiros, Pretos Velhos Quimbandeiros, e Mestres Quimbandeiros, que se manifestam junto e como Exu. Exemplo: Malunguinho, Ventania, Caninana, Nega Luanda, Chico Feiticeiro, Gavião Preto, Galo Preto, Carcará, etc..
Encantamento: o Mistério Teológico
O encantamento tem um apelo muito significativo sobre tudo aquilo que é mágico, místico e misterioso. Encantar é a ação de produzir maravilhas e o encantamento é tudo aquilo que produz fascínio através de algo sobrenatural ou sem explicação. É uma palavra muito interessante, pois sempre diz sobre uma ação mágica ou extraordinária, ou seja, encantadora.
Do ponto de vista pessoal, o Encantamento é um tipo de experiência mística, muitas vezes inexplicável e tida como fantasiosa. Há muitas histórias populares e testemunhos que atestam isso. São eventos paranormais ou parapsicológicos que nos fazem definir o Encantamento como um Mistério Teológico.
Neste contexto, o Mistério refere-se a verdades, experiências ou aspectos da fé que estão além da compreensão humana. São verdades reveladas pelo divino, mas que permanecem ocultas ou inacessíveis (pelo menos em parte) ao entendimento limítrofe da humanidade.
Em últimas análise, o Encantamento é a divinização do Ser. É a experiência em que um Ser Humano ou da Natureza adquire sabedoria e poderes sobrenaturais, tornando-se sagrado ou divino. Na cultura das religiões afro-ameríndias vamos encontrar vária histórias de encantos e encantamentos sofridos por vários tipos de seres. Em geral, essas histórias definem certos mitos de origem e, muitas vezes, são realmente baseados em experiências reais.
O Espírito Encantado da Natureza
Essas histórias tendem a ser muito parecidas na sua estrutura, onde vamos encontrar dois tipos de Encantados. O primeiro tipo são os Espíritos Encantados de Seres na Natureza, ou seja, um Espírito Não-Humano (elementar) que habita um corpo mineral, vegetal ou animal. Então, é dito que este corpo – uma rocha, árvore ou bicho – é encantado (divinizado) por este Espírito que, por sua vez, é o Encantado desse Ser Natural.
Neste universo, até mesmo uma rocha ou um vegetal é um Ser Espiritual, dotado de inteligência, vontade e qualidades naturais. Então, cada Ser da Natureza, cada planta, cada animal e cada rocha possui uma inteligência própria, ou seja, um Espírito Encantado. Assim como, existem Espíritos Encantados que são protetores de uma determinada espécie e, por isso, cuidam dessa espécie como um todo.
O Espírito Encantado Humano
Outro tipo de Encantado são os Espíritos Humanos que adentraram muito profundamente nos Mistérios da Natureza, passando a habitar seus reinos. Isso pode acontecer de muitas formas, com o Espírito encarnado ou desencarnado.
Com o Espírito Encarnado acontece uma experiência corpórea, quando ele entra no Encante – o mundo astral – diretamente, desmaterializando-se. Ele adentra um rio, o mar, uma mata, uma caverna, uma árvore, uma rocha e simplesmente some. Em alguns casos, ele se transforma nesses Seres da Natureza, em árvore, em rocha, em animal. Então, é dito que ele se encantou nesse lugar.
Há muitos casos descritos de desmaterialização, de pessoas se perderam em algum lugar e se encontraram ou foram levadas por Espíritos. Simplesmente sumiam ou eram dadas como loucas, passando dias, semanas e meses perdidas. Mas, quando voltavam, reapareciam espiritualmente “prontas” e “feitas”, com poderes de cura e mediunidade. Nesses casso, é dito que o médium é um Mestre que já nasceu feito, se tornando um Encantado em vida.
É assim que algumas pessoas adquirem a capacidade de adentrar no Encanto diretamente. Elas se desmaterializam e depois se materializam, se transformando em bicho, toco, pedra. Mas, também podem possuir a capacidade de fazer viagem astrais, clarividência e etc.. Em alguns casos, esses encantados em vida podem projetar o seu corpo astral e se manifestar mediunicamente nas sessões espirituais de uma outra casa ou terreiro.
Da mesma forma, Espíritos de ancestrais desencarnados que foram iniciadas no culto também podem adentrar nesse Mistério. É dito que eles vão morar nas Cidades Encantadas, retornando com a ciência (o Saber Espiritual) para ajudar os seus devotos. Também podem habitar o corpo de um Ser da Natureza, como uma árvore ou animal, encantando-o.
Opinião, Fatos e Vivências
Como pudemos ver, um Encantado pode ser muitas coisas. Mas, sem duvidas, ele é um Espírito que possui muita afinidade com o Universo Natural e os seres que nele habitam. É nesse contexto que vamos encontrar muitas histórias sobre encantamentos e experiências místicas de pessoas que se tornaram santos, populares curadores ou médiuns do divino.
Uma das histórias mais características que vamos ver, é de do profeta Enoch (na Torá) ou Idris (no Corão), sincretizado com Hermes Trismegisto na Tradição Esotérica. Ele é Senhor da Divinação e Padroeiro de Geomancia, pois é tido como o intérprete de Deus. Segundo a Tradição, ele era o mais próximo a Deus e, de tão querido pelo Senhor, não morreu. Enoch foi arrebatado aos céus para morar com Deus no Palácio Celestial.
Essa é uma história bem comum que vamos observar. Muitos Mestres Encantados contam as suas histórias com este enredo, dizendo que não morreram, mas adentraram de maneira corpórea no Universo Astral, passando a habitá-lo. Assim como, em muitas história populares, vamos saber de pessoas que sumiram na mata ou quando entraram em um rio, mas nunca encontraram o seu corpo. Elas simplesmente desapareceram. Em alguns casos, tempos depois, essa mesma pessoa começa a se manifestar mediunicamente.
O caso é um tanto parecido com o de muitos Orixás que não morreram, simplesmente se divinizaram. Como Ogum, que quando decidiu voltar para o mundo espiritual, cravou a sua espada no chão e adentrou às profundezas da Terra, desaparecendo. Ou Yemanjá que, perseguida, adentrou em um rio, outro mitos dirão que ela se transformou no rio (o rio Ogun, na Nigéria). Ou, até mesmo, Xangô, que depois de morto renasceu sobre sua lápide e puniu os reis maus, desaparecendo novamente na Terra.
Este último ressoa significativamente com a história mais marcante e conhecida nesse sentido: a de Jesus Cristo, que foi morto, ressuscitou e ascendeu aos Céus, prometendo voltar no fim dos tempos para julgar os vivos e os mortos. Essa é a mesma história de Yurupari, o “Cristo Indígena”, que nasceu filho de uma virgem com o Sol, foi perseguido e morto em uma cruz de pedra, ressuscitou no terceiro dia e ascendeu aos Céus, prometendo voltar no fim dos tempos. Enfim, os mitos se repetem, talvez como frutos de uma memória primitiva.
Outra narrativa popular muito comum é a mesma que aconteceu com o Mestre Carlos – o Rei dos Mestres. A Tradição contra que Carlos, ainda menino, queria aprender a Ciência da Jurema, mas seu pai não lhe ensinava, por julgá-lo imaturo. Então, Carlos pegou os apetrechos de culto escondido, vai até um juremal e abre uma sessão, mas não consegue fechar. Ele adentra no Encanto e some, ninguém o encontra. No terceiro dia do seu sumiço, o seu pai abre uma sessão para saber com os Espíritos onde o filho estava. Quem baixa na sessão é o próprio Carlos, que estava no Encanto.
Mestre Carlos é bom Mestre
Que aprendeu sem se ensinar
Passou três dias caído
No tronco do Juremá
Quando ele se levantou
Foi pronto pra trabalhar
Muitos dizem que o Mestre Carlos morreu naquela sessão que abriu e não conseguiu fechar. Mas obtivemos de fontes confiáveis que esta não é uma informação verdadeira. Carlos voltou como um Mestre Encarnado, teve família e filhos. Relatos dizem que, quando vivo, a sua casa era muito frequentada, diariamente, por pessoas em busca de cura e auxílio espiritual.
Assim como Carlos, eu já tomei conhecimento de muita gente que passou por algum episódio parecido. Caso muito conhecido da minha região, era de uma senhora que, quando criança, estava brincando na boca de uma mata e foi chamada por uma indiazinha. Ela adentrou à mata e foi brincar com ela em uma aldeia. Para ela se passaram algumas horas, mas para a família foram 3 dias de buscas ininterruptas, até a garota ser encontrada na mata. Detalhe: em perfeito estado, limpa, hidratada e alimentada. Era como se ela tivesse saído de cada naquele mesmo dia. Ela conta que depois desse episódio passou a ver espíritos, fazer profecias e curar os doentes.
Conclusão
Pessoalmente, eu tive experiências assim, de “adentrar no Encanto”, somente por desdobramento astral. Mas é uma experiência rara. Entretanto, já soube de muitos casos de pessoas que sumiram e depois reapareceram fazendo milagres. E ai, quando se pergunta onde a pessoa estava, ela faz relato de algum lugar estranho na mata ou nas profundezas de um rio, em cidades e aldeias que não existem naquele lugar, encontrando-se com entes falecidos ou com seres fantásticos e maravilhosos.
Fato é que o Encanto é um Mistério e o encantamento é uma experiência misteriosa, mística, de transcendência física. Os Reinos e Cidades Encantadas são a morada desses seres mágicos. Em uma árvores ou uma rocha pode haver uma cidade inteira, com muitos habitantes, reis, príncipes e .princesas. E é difícil imaginarmos isso, pois soa como algo alegórico e sem sentido.
Mas, ao contrário do que pensam os doutos do esoterismo, a Encantaria também possui uma dimensão esotérica profunda e muito potente. Ela está ligada aos Mistérios da Natureza e a manifestação da sua Inteligência. Esses Espíritos da Natureza, ditos Encantados, podem ser espíritos muito antigos, Espíritos Não-Humanos, guardiões de determinados sítios e que povoam a Terra muito antes da humanidade.
São um tanto semelhante aos djinn, os gênios “nascidos de um fogo sem fumaça” no princípio da existência. Esses seres evoluem dentro do seu próprio karma constituído, sem precisar passar pela experiência humana. Eles estão intimamente ligados às manifestações das Forças da Natureza.
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